quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Menos açúcar = Mais saúde

Um paciente me perguntou sobre uma reportagem, veiculada em uma revista semanal, que diz que um estudo, publicado no periódico Obesity, mostra que a redução do açúcar na dieta de crianças, por apenas 9 dias, já traz benefícios consideráveis à saúde.

Eu não tinha lido ainda. Procurei o artigo original mas não encontrei. Não posso opinar sobre ele, portanto, mas quero falar um pouco sobre o tema.

Segundo a revista semanal, o estudo que foi realizado foi algo simplório mas que levanta, como sempre acontece, de tempos em tempos, a idéia de que reduzir o açúcar na dieta seja benéfico. Quem acompanha o nosso blog e/ou conhece meu trabalho, sabe que concordo plenamente com esta idéia. Todo e meu estudo na área e a minha experiência clínica me levam à certeza de que fomos induzidos a consumir MUITO mais açúcar do que deveríamos, tanto na forma de doces quanto na forma de amidos de alto índice glicêmico (que promovem uma elevação da glicemia rapidamente).

Se você duvida, olhe pra nossa alimentação clássica, cultural, aquela que você provavelmente aprendeu desde a infância. É sempre uma base de amido acompanhada de "alguma coisinha". Mais ou menos assim:

Opção 1 - ARROZ + FEIJÃO + alguma coisinha
Opção 2 - MACARRÃO + alguma coisinha
Opção 3 - PURÊ DE BATATA + alguma coisinha
Opção 4 - QUALQUER MISTUREBA DOIDA DAS 3 ANTERIORES + alguma coisinha

Talvez os mais jovens tenham sido expostos uma prática diferente destas (o que eu duvido, em grande parte), mas se você, que está lendo este texto, tem uns 27 anos ou mais, deve se encaixar, nem que seja parcialmente, no que descrevi. A "alguma coisinha" costumava ser carne, frango ou peixe, mas não era em grande quantidade porque, simplesmente, a base de amido de alto índice glicêmico sempre seduziu mais, principalmente se completada com uma farinhazinha. Pra completar a bagaceira, a gente colocava qualquer folhinha verde ou outro treco, que se parecesse com salada, pra não tomar esporro da mãe... e a vida seguia.

Quem estiver se identificando aqui, provavelmente também tomou Nescau com açúcar adicionado e lanchou pão com... pão, em épocas de vacas magras.

Hoje em dia, tá tudo ainda pior. Observe as prateleiras do supermercado. QUASE TUDO tem uma base de amido ou algum açúcar ou derivado escondido. Tem farinha de trigo em quase tudo (dita como especial e enriquecida com ferro e ácido fólico, o que só piora tudo), além de amido de milho (a boa e velha maisena) e outras farinhas, sempre tendendo a formar, basicamente, gomas. É um tal de sucrose, sacarose, açúcar invertido, maltodextrina, xarope de glucose, frutose, oses e mais oses. Tudo isso é açúcar em variadas formas. Tudo isso encharca a gente de uma forma que nosso organismo não foi desenhado pra processar.

Pense bem. Esta praga vem piorando da década de 50, do século 20, pra cá. Isso dá menos de 70 anos. O Homo sapiens sapiens está no planeta há uns 190.000 anos. Temos agricultura mais organizada há apenas uns 9000 anos. Agricultura em escala e com processamento só aconteceu, de verdade, alcançando boa parte das populações, bem depois da revolução industrial. Ou seja, tudo isso é muito recente e nossos organismos, simplesmente, não são adaptados para o consumo destes alimentos. Isso tudo justifica o fato da retirada do açúcar fazer bem a tanta gente, não acha?

É bem verdade que o estudo da epigenética tem mostrado que nossa capacidade de adaptação, com posterior transmissão para as gerações seguintes, é maior do que pensávamos, mas parece que o "projetista" de nossos organismos realmente não deixou esta folga tão grande para termos o açúcar, ou melhor, os alimentos de alto índice glicêmico, como opções realmente boas de alimentação.

Por tudo isso eu fico feliz em ver um estudo "falando mal" do açúcar, mesmo que ainda sem o impacto que precisamos. Espero, realmente, que possamos conscientizar cada vez mais pessoas no sentido de perceber que os açúcares e farinhas, em geral, não são boas opções como alimentos. Talvez pudéssemos deixá-los separados para situações específicas, em comemorações esporádicas mas, sem dúvida, não devemos mais pensar neles como tão corriqueiros no nosso dia-a-dia. É difícil, visto que fomos viciados desde a infância, mas temos que continuar tentando.

Como eu disse em outro momento: COMA MENOS DOCE PARA TER UMA VIDA MAIS DOCE.

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