segunda-feira, 9 de julho de 2012

Ortorexia ou "tenho que comer certo o tempo todo"!

Eu já não ouvia este termo há algum tempo. Não que não seja importante, mas talvez pelo fato de ainda não ser um diagnóstico formal, apesar de haver até uma descrição sintomatológica. Estou falando de ORTOREXIA.

Você já ouviu falar sobre anorexia ou hiporexia, quando uma pessoa alimenta-se muito pouco por referir insuficiente apetite, podendo levar a um emagrecimento doentio. É um distúrbio alimentar bastante divulgado, que ocupa a mídia vez por outra. Dificilmente você ouviu falar de ortorexia, termo criado pelo médico norte-americano Steven Bratman (não é o Batman!).

Trata-se de um distúrbio alimentar também mas, neste caso, a pessoa afetada apresenta uma fixação por comer em um determinado padrão, costumeiramente visto como saudável pela mesma. É uma obsessão por comer alimentos saudáveis ou corretos. O paciente busca seguir regras rígidas de alimentação, elevando os alimentos vistos como saudáveis e execrando aqueles classificados como inadequados (normalmente alimentos com corantes, conservantes, gorduras trans, excesso de sal ou açúcar, entre outros).

Daí vem a pergunta lógica: e o que tem de mal alguém querer comer certo?

Parece ilógico considerar alguém que se esforça para comer de forma saudável como uma pessoa portadora de patologia. Realmente, todos devíamos nos esforçar para comer de forma mais saudável. O problema, como em tudo na vida, é o exagero.

O paciente ortoréxico torna-se uma pessoa obcecada, fixada em uma idéia quem costumeiramente, está cheia de informações truncadas e algumas inverdades, levando-a a uma alimentação que dificilmente será verdadeiramente saudável. No esforço para alimentar-se de forma supostamente mais correta, o paciente costuma excluir importantes grupos de alimentos, como as carnes vermelhas ou as gorduras, por exemplo, caminhando na direção da desnutrição. Não é incomum a deficiência de vitaminas e minerais nestes pacientes, bem como o excesso de outros nutrientes. Um desequilíbrio nutricional.

Estes pacientes passam, também, por dificuldades sociais, se tornando isolados em seus hábitos alimentares restritos. Isso precipita quadros de depressão, se não já estiverem instalados. Esta pessoa dispõe-se a gastar somas muito maiores que o comum ou buscar seus "alimentos especiais" em locais distantes e de acesso difícil, dedicando tempo excessivo de suas vidas a este planejamento, inclusive em termos do modo de preparo. Costumam ter dificuldade em encontrar quem prepare adequadamente seus pratos, sendo obrigados a aprender a prepará-los e gastando ainda mais tempo com o assunto. É uma dedicação extrema de tempo ao assunto "alimentação correta", gerando falta de tempo para outros temas igualmente importantes e limitando a vida do paciente.

Ok. Beleza. Já deu pra entender do que se trata e você já deve estar enquadrando meia-dúzia de figuras conhecidas no quadro, pelo menos parcialmente... talvez até você mesmo(a)! Vamos com calma.

Em sendo um distúrbio alimentar de óbvia origem psicológica, precisaremos da atenção dos profissionais psicólogos para esta avaliação ser correta e para implementar uma psicoterapia adequada. O nutricionista entra neste time, também, para tentar reeditar a educação nutricional do paciente. Tarefa difícil. O médico também faz parte do grupo terapêutico, avaliando possíveis patologias decorrentes da desnutrição e introduzindo o tratamento farmacológico quando necessário. É possível que seja necessário um médico psiquiatra também. Não nos esqueçamos do educador físico, pois este será provavelmente necessário para uma reabilitação física.

Como sempre, a atenção multidisciplinar será a melhor maneira de cuidar desta pessoa. Só atacando por todas as frentes será possível resolver este problema.

Multidisciplinaridade integrada. Solução para a saúde.

Integremo-nos.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

E o Belviq? Vamos usar lorcaserina?

O FDA (órgão de cotrole de alimentos e medicamentos nos EUA) aprovou, dia 27 de junho de 2012, uma nova droga para combater a obesidade: a LORCASERINA.

Esta notícia criou grande expectativa entre profissionais de saúde e pacientes que lutam contra este mal, mas precisa ser vista com ponderação e é necessário definirmos alguns limites sobre esta nova opção.

Primeiro de tudo: esta nova droga ainda não está aprovada no Brasil. Desta maneira, esqueça esta opção por ainda algum tempo, pois sua avaliação e aprovação provavelmente não serão tão rápidas. Levando em conta que seu mecanismo de ação é similar ao de uma droga que foi retirada do mercado, a fenfluramina, as avaliações devem ser muito criteriosas e sua possível liberação deve dar trabalho.

A fenfluramina foi tirada do mercado por causar problemas cardíacos, problema supostamente solucionado no caso da lorcaserina. Foram apresentados alguns estudos demonstrando que a nova droga não causaria este efeito mas, obviamente, cautela é sempre bom.

A droga nova age em receptores específicos 5-HT2c, estimulando a liberação de proopiomelanocortina (POMC) e, consequentemente, gerando saciedade. Isso significa que, estando em uso desta medicação, o paciente vai se sentir satisfeito com menor volume de alimentos. Isto é interessante, mas vale lembrar que muitas outras drogas, sintéticas e naturais, trazem a mesma proposta. Ensaios clínicos mostraram bons resultados com a lorcaserina e esperamos que isso se reproduza no público que vier a utilizá-la.

O segundo ponto é o seguinte: a nova droga foi aprovada com indicações específicas pelo FDA. A proposta é que sejam usuários os pacientes com Índice de Massa Corpórea (IMC) maior que 30 ou maior que 27 associado a outras doenças, como diabetes e/ou hipertensão. Isso define bem o grupo que deve fazer uso da novidade. Reparou?

Veja bem. Se você não se encaixa em nenhuma das duas especificações você NÃO É CANDIDATO(A) A UTILIZAR A LORCASERINA. Não é uma medicação para "diminuir o pezinho da barriga" nem para "perder mais uns 3 quilinhos". Trata-se de uma droga extremamente específica em sua ação, que chega como novidade e que ainda não se tem experiência com o uso. Pode ser uma maravilha mas também pode ser um problema, como já vimos acontecer antes com outras propostas.

Não quero ser chato mas tenho que frizar: se for liberada no Brasil, só utilize esta nova droga sob prescrição e acompanhamento médico. É o mais sensato a fazer.

Eu não poderia fechar um post como esse sem comentar mais uma coisa: NÃO EXISTE DROGA MILAGROSA PARA EMAGRECER. O processo de emagrecimento envolve mudança de hábitos de vida em uma escala tão global que nenhuma proposta isolada, seja ela farmacológica ou não, deve ser capaz de promovê-lo a contento. Se cerque de profissionais competentes para cuidar de sua saúde. O trabalho multidisciplinar integrado, com médico, nutricionista, educador físico, psicólogo, farmacêutico e biólogo trabalhando de forma harmônica, diretamente ou em consultoria, é a melhora maneira de emagrecer com saúde e sucesso. É a melhor maneira de promover sua saúde de forma plena. Aposte no seu esforço orientado e seu sucesso estará garantido.

"Ponderação e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém."

E também:

"Laranja madura na beira da estrada..."

Reflita... e se esforce!