quinta-feira, 31 de julho de 2014

Cultura da Compensação

Rapaz...

Às vezes eu fico me perguntando se tô ficando velho e chato ou se realmente as coisas têm tomado uns rumos meio esquisitos. Digo isso porque tenho reparado muito no comportamento produtivo, metas e anseios das pessoas em geral e tenho percebido que estamos todos em uma péssima tendência de compensação.

O que quero dizer é que, muitas vezes, ao invés de serem aplicados os esforços necessários para que alcancemos as metas, a gente se resigna e depois compensa com alguma outra coisa. Compensa...

Será que compensa?

É como aquele discurso comum:

- Pôxa! Eu trabalhei tanto hoje que mereço comer este pedaço de torta!

Vamos traduzir?

- Pôxa (em caráter reativo e defensivo, tentando inibir uma contraposição)! Eu trabalhei tanto hoje (e meu trabalho é uma merda E/OU e estou insatisfeito(a) com meu trabalho E/OU e não ganho o que julgo suficiente. O "tanto" entra como uma justificativa em termos de volume, tentando exprimir um cansaço extremo) que mereço comer este pedaço de torta (pois preciso compensar, com alguma coisa realmente prazerosa, todo o sofrimento e sacrifício que tem sido meu cotidiano e minha vida)!

Fica feio pra caramba, não é? Também achei. Será que você pensa assim? Calma que não é o único exemplo. Veja outro:

- Ah! Eu vou ficar acordado até mais tarde mesmo. Nem tô com sono... Também preciso fazer minhas coisinhas, né?

Mais uma tradução:

- Ah (exprimindo insatisfação e frustração)! Eu vou ficar acordado até mais tarde mesmo (de forma imperativa, tentando demonstrar uma retomada de controle da própria vida e, possivelmente, demonstrando que não se tem controle costumeiramente sobre o cotidiano). Nem tô com sono (justificando o porquê de ficar acordado)... Também preciso fazer minhas coisinhas, né (trazendo incluída a informação de que, durante o dia, não as tem feito. Como se estivesse admitindo que deixa de fazer "suas coisinhas" durante o dia e precisa "compensar" isto de alguma maneira, em algum horário. O "coisinha" tenta vitimizar o locutor e traz um vínculo afetivo com a mesma "coisinha".)?

Eu me identifico especialmente com este segundo... Que também é feio pra caramba...

A verdade é que em nenhum dos dois casos ocorre verdadeira compensação. Isso somos nós tentando tapar buracos redondos com peças quadradas. A gente consegue apenas piorar nossas vidas e nossas situações. Estes exemplos se refletem na farra de domingo à noite, ou mesmo quinta-feira, tendo trabalho na manhã do dia seguinte. Refletem o comer um "docezinho" mesmo sendo diabético e tendo recebido fortes orientações contra isso. Refletem o excesso de bebida "eventual", todo final de semana. Refletem as justificativas para não alcançarmos nossas metas.

Refletem nossa irresponsabilidade para conosco e com nossos futuros, e isso não tem compensação.

Leva as pessoas a admirar indivíduos que nada realizam, mas vivem em compensações. Isso os faz parecer felizes, mas mantém, sem dúvida, um vazio enorme em suas almas, em suas vidas. Não são referências a serem seguidas, mas indivíduos que precisam de ajuda, pois estão "compensando" todas as suas não-realizações o tempo inteiro, o que os afasta de realmente alcançar quaisquer objetivos (objetivos que, às vezes, nem existem).

Ao invés de compensar, precisamos começar a planejar e executar estes planejamentos. É muito importante que voltemos a ver a vida como uma sucessão de desafios a serem superados e não como meninos mimados que serão bem ou maltratados pela própria vida. Ela não está fora, pois ela somos nós. Nós somos os protagonistas. Nós guiamos o barco. Se deixarmos ao sabor da maré, chegaremos em qualquer lugar, não necessariamente onde imaginávamos ou queríamos. Vamos, inclusive, parar de imaginar e começar a querer. Querer de verdade e fazer por onde realizar.

Nada de "deixe a vida me levar".

Pegue as rédeas desse cavalo brabo e direcione para onde acreditar que deve!

Acredite! Pense! Execute!

Seja protagonista!

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O "jeitinho" e a retidão

Rapaz...

Nos tempos de criança e adolescente, sempre me dediquei muito à prática dos esportes. Eu realmente


gostava muito de participar, o que me levava a me esforçar em treinamento e buscar sempre os melhores resultados. Naquela época, em qualquer modalidade, havia uma figura absoluta em todas as modalidades que eu praticava. Esta figura icônica, responsável pelos resultados finais de absolutamente tudo, carregando uma responsabilidade absurda nas costas, era o juiz.

Isso mesmo. O juiz era temido e respeitado por todos. Sempre houveram os xingamentos velados e as críticas, quase sempre às escondidas, mas todos sabíamos que o poder de decisão ficava nas mãos dele. Sabe o que a gente fazia? Tentava ajudar.

Como?

Nós nos preocupávamos e éramos insctruídos a seguir as regras. Sempre foi motivo de honra e satisfação pessoal ter um desempenho satisfatório (se possível, vencer) seguindo rigorosamente as regras de cada modalidade esportiva. Essa era a única maneira de alcançar resultados que refletissem nossa real situação em cada esporte. Essa era a única maneira nobre de vencer.

Você deve estar se perguntando:

- Por que esse doido do Adolfo resolveu falar nisso agora?

É simples. Eu assisti aos jogos da Copa do Mundo. Fiquei triste, como qualquer brasileiro, com as duas ridículas derrotas nos últimos jogos. Estou revoltado, como muita gente, com tanta mentira e mal gerenciamento de recursos, nos levando a ter tido a Copa mais cara da história, mas sem contrapartida positiva proporcional para o povo e nossas cidades. Tô retado com uma escalação que se baseava, como inspiração, em um só atleta, apesar da qualidade de muitos outros jogadores da equipe e da disponibilidade de outros atletas igualmente brilhantes, mas que foram deixados de fora. Tem tudo isso e mais: fiquei muito triste em ver que a orientação de base da maioria dos nossos atletas é, simplesmente, simular e iludir.

Me irritou profundamente ver quantas faltas tentamos "cavar"! Quantos laterais e escanteios tentamos "roubar"! Quanto atleta tropeçando no próprio pé e caindo, com a mão no rosto, gritando e "chorando de dor"! Fiquei feliz com as reprimendas de alguns árbitros, que percebiam a malandragem e jogavam mais duro, tendo rendido até cartão amarelo. Tudo bem que a arbitragem estava, em geral, péssima mas, como eu falei ali em cima, precisávamos ajudar os árbitros e não tentar iludi-los cada vez mais.

Ganhar o jogo com ilusões e falcatruas é ROUBO! Eu ainda fui obrigado a ouvir uns 2 ou 3 comentaristas falarem coisas do tipo "isso faz parte do jogo". Como assim?! As REGRAS fazem parte do jogo! Uma disputa serve para determinar qual dos dois lados tem o melhor desempenho. Só com regras rígidas, claras e bem seguidas nós podemos ter competições onde isso possa ser avaliado. Essa idéia do "jeitinho" precisa acabar pois, não nos enganemos, nossas crianças estão assistindo e aprendendo que "roubar" faz parte do processo. Elas estão percebendo que quem é "espertinho" tende a se dar melhor. Isso é absurdo!

Minha maior felicidade ficou em ver a seleção da Alemanha ser campeã. Resultado de muitos anos de treinamento sério e investimento em divisões de base, venceu uma equipe com relativamente poucas faltas, conduta muito reta, seriedade, treinamento duro e caráter. Este exemplo eu quero que minha filha siga.

"Mantenha a calma e siga as regras"
Olhem só. Não sou daqueles que diz que a grama do vizinho é sempre mais verde não. Nós já tivemos muitas seleções melhores do que esta da Alemanha, inclusive em retidão. Essa presepada de dar jeitinho em tudo vem crescendo e acredito que só estamos perdendo com isso. É por isso que me chateei. Também não estendo esta crítica a todos os nossos jogadores, mas que aconteceu um bocado, aconteceu.

Tudo isso se reflete no tratamento de cada um de vocês. Precisamos seguir as regras estabelecidas para alcançar resultados bons. Não adianta tentar dar um "jeitinho" na dieta nem responsabilizar outras pessoas ou coisas pelas nossas falhas. Vamos assumir e lidar com as consequências. Apenas desta forma podemos reorientar os tratamentos para torná-los cada vez mais personalizados e eficientes.

Vamos retos e crescendo sempre!