segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Comer menos doces para uma vida mais doce

Vi a capa de uma revista semanal falando sobre novas perspectivas para o diabetes. A capa mostrava dois brigadeiros como olhos e uma boca feliz feita com algum doce cremoso. Ficou bem legal. Sério!Ficou bem bonitinho.

Certo. O que me levou a escrever este post, na verdade, não foi o fato de achar a capa legal. Eu li a matéria e ela trazia informações sobre novas drogas e perspectivas para as pessoas que sofrem com o diabetes. A possibilidade de tratamento com células tronco é realmente impressionante. Fico feliz com a perspectiva e espero que se torne comum logo e, com fé em Deus, com sucesso. O problema são as outras medicações e uma tônica que pode surgir entre os diabéticos mais desavisados: a negligência.

Que o diabetes é uma condição que demanda um controle muito delicado todos sabemos. O controle medicamentoso, como podemos perceber até pela matéria da revista, tem evoluído. O problema é, apenas, que os medicamentos têm se focado na ponta do problema, a hiperglicemia.

Hiperglicemia é quando a glicose no seu sangue encontra-se mais elevada do que deveria. Isso cria uma série de problemas, podendo levar a distúrbios graves como doença renal e tromboses. Este é o aspecto mais óbvio do diabetes e os medicamentos se dedicam a controlar este fator. Este controle é bom, sem dúvida, mas e o foco na origem? Precisamos focar na relação entre insulina e seu receptor, na manifestação do receptor de glicose na membrana plasmática e coisas do gênero. Sabe quem faz algo assim? A boa e velha metformina. Pois é. Um medicamento bem mais antigo e do qual se extraem cada vez mais benefícios, até mesmo como promessa no tratamento de neoplasias.

Será que perdemos o foco com o tempo? Eu me preocupo muito com a evolução dos medicamentos pois, não raro, os mais novos não superam os antigos. Eu sei que muitos medicamentos anti-diabéticos novos são muito úteis, como os inibidores de DPP4 e os incretinomiméticos, mas tenho sentido falta do foco na origem. Por isso é que eu digo:

DIABÉTICOS! NÃO PERCAM O FOCO! Não acreditem que as novas drogas já os habilitam a comer carinhas de brigadeiro com doce cremoso pois, apesar de até poderem manter suas glicemias normais, não corrigem a falha metabólica foco de suas condições. Além disso, tem outra coisa: NINGUÉM DEVERIA COMER CARINHAS DE BRIGADEIRO COM DOCE CREMOSO. Sério. É ruim pra todo mundo. Dê uma olhada neste link.

Fiquem todos atentos. A melhor conduta, para todos nós, ainda é manter distância do açúcar e das farinhas refinadas, bem como dos produtos feitos com eles. Precisamos de mais proteínas e gorduras de qualidade e de menos, BEM MENOS açúcares de todo tipo.

Vamos comer menos doces para ter uma vida MAIS DOCE.




terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Regulando o quê mesmo?

Fui surpreendido hoje.

Uma paciente me indicou a leitura de uma notícia no endereço http://oglobo.globo.com/economia/defesa-do-consumidor/anvisa-proibe-venda-de-quatro-suplementos-alimentares-para-atletas-11626010.

Em resumo, a ANVISA proibiu a comercialização de mais quatro suplementos alimentares no Brasil. Isto não é nada incomum aqui. As proibições são muitas e, muitas vezes, ganham grande espaço na mídia (como visto em Proibir X Educar).

O que me surpreendeu, de fato, não foi a notícia. Como já citei, proibições são muito comuns por aqui. A surpresa reside nos argumentos citados pela reportagem. Vamos vê-los um a um:

ISOFAST-MHP
ARGUMENTO: conter BCAA na sua composição.
COMENTÁRIO: é difícil até de comentar isso. A Isofast é composta por whey (proteína do soro do leite) hidrolisada, que é a proteína natural com maior teor de BCAAs e sua composição. Era pra ter o quê?

ALERT 8-HOUR-MHP
ARGUMENTO: conter taurina em sua composição.
COMENTÁRIO: vão proibir o RedBull? Ele também tem taurina.

CARNIVOR
ARGUMENTO: teores de vitamina B12 e B6 acima das recomendações diárias e por conter Glutamina Alfa-Cetoglutarato (GKC), Ornitina Alfa-Cetoglutarato (OKG) e Alfa Cetoisocaproato (KIC).
COMENTÁRIO: B6=6,5mg e B12=100mcg por dose. Pode fazer mal a alguém?! Estes valores de recomendações diárias precisam de uma séria revisão há muitos anos. Fora isso, pelo menos o OKG e o KIC já eram suplementos de sucesso quando eu comecei a conhecer este tema, há 22 anos atrás!

PROBOLIC-SR-MHP
ARGUMENTO: não haver comprovação de segurança de uso.(?!?!?!)
COMENTÁRIO: se não há, COMO ESTAVA LIBERADO PARA IMPORTAÇÃO E VENDA?!?!



O caso do último produto é que me leva ao questionamento máximo: se todos estes produtos apresentam "tantos problemas", por que estavam liberados para importação e venda? Esta avaliação não é feita antes? Será que estamos sujeitos a comprar mais "produtos problemáticos"? Será que produtos de renome internacional conseguiram enganar as agências de diversos países mais desenvolvidos que o nosso mas foram detectados como problema pela fantástica e altamente tecnológica ANVISA? (Nós somos o máximo!)

Ironias à parte, os argumentos são tremendamente falhos e só mostram o quanto o assunto suplementos alimentares ainda é negligenciado no nosso país. O tratamento que o tema recebe é, pra dizer o mínimo, ridículo. Não parece haver capacidade técnica suficiente para avaliação pelos órgãos normatizadores e fiscalizadores. Isso me surpreende muito, visto que alguns dos maiores gênios da suplementação alimentar estão aqui no Brasil.

Já passou da hora de isso mudar. Esta conduta, baseada em um misto de ignorância e aparente má-vontade, estimula um "mercado negro" de suplementos e a falta de informação entre os praticantes dos esportes que seriam beneficiados pelos mesmos. Muitos deles acabam recorrendo ao uso de esteróides por pura e simples desinformação. Se tivessem os suplementos corretos disponíveis e as informações claras, provavelmente não recorreriam a isso.

Finalizando, é difícil considerar as decisões de órgãos que ainda não abriram os olhos para úma das moléculas lícitas que mais mata no mundo: o paracetamol! Ele não é proibido. Ninguém regula, por exemplo, o consumo de álcool, principalmente entre os jovens. Algumas leis existem mas pouco são cumpridas. Se algum suplemento apresenta incorreções em sua composição, não deveria nem mesmo ser liberado para comercialização. De qualquer forma, é preciso um órgão regulador com competância para regular isso, agindo com transparência também.

Regulação tem que ter coerência. Tem que ter ciência.