quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Dia do médico

Hoje é o Dia do Médico.

Hipócrates
Durante todo este dia foram muitas as homenagens e comemorações que me deixaram profundamente emocionado. É uma felicidade tremenda perceber que podemos fazer diferença na vida das pessoas de variadas formas, cuidando de sua saúde física e mental e ajudando-as a melhorar sua qualidade de vida. É muito bom ter esta função e a oportunidade de exercê-la.

"Aos doentes tenha por hábito duas coisas - ajudar, ou pelo menos não produzir danos" - Hipócrates

Falo em oportunidade porque é isso que os paciente fazem por nós: nos dão a oportunidade de cuidar de suas vidas. Para uma pessoa nada é mais valioso que a própria vida, por mais que ela possa até pensar que não. Nada é mais sagrado do que sua própria saúde e, ao entregá-la nas mãos de um médico, esta pessoa está dando ao mesmo a exclusiva oportunidade de cuidar deste bem único. Nós, enquanto médicos, é que temos que agradecer pela confiança dos pacientes.

MUITO OBRIGADO PELA OPORTUNIDADE DE CUIDAR DE VOCÊS!

Quando estamos assistindo aos pacientes, aprendemos com seus quadros clínicos, com suas vivências, com sua melhora ou piora. Cada paciente ajuda o médico a se tornar melhor, mais eficiente e, se ele souber aproveitar, mais sábio. O médico se torna mais médico a cada pessoa que cuida.

"Curar algumas vezes, aliviar freqüentemente, consolar sempre. " - Hipócrates

Cuidar das pessoas é a finalidade do médico. Não necessariamente curar, mas CUIDAR. Orientar cada um sobre como ser mais saudável e mais feliz. Estimular cada pessoa a encontrar a cura para seus males, cura esta que está dentro de cada um. O médico não cura, mas catalisa o processo.

"Tuas forças naturais, as que estão dentro de ti, serão as que curarão suas doenças." - Hipócrates

Considerando tudo isso, precisamos considerar muito o fato de que nos é atribuída muita responsabilidade, e precisamos honrar a mesma. Precisamos sempre nos lembrar do juramento que fizemos em ocasião de nossas formaturas:

Juramento de Hipócrates

"Eu juro, por Apolo médico, por Esculápio, Hígia e Panacea, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue: 

Estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes. 

Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém. 

A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substãncia abortiva.  

Conservarei imaculada minha vida e minha arte. 

Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam. 

Em toda casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução, sobretudo dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados. 

Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto. 

Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça."

Vamos cuidar das pessoas. Vamos lembrar que, por mais que possamos realizar coisas maravilhosas, não somos, nem de longe, deuses. Vamos receber cada paciente com o coração e a mente abertos, na franca intenção de auxiliá-los a se tornarem mais saudáveis e felizes. Vamos sempre nos esforçar para trazer a melhora e salvar quando possível.

Sob a luz de Asclépios, sigamos as idéias de Hipócrates e Platão.

Sob a luz de Deus, sejamos ferramentas de sua sabedoria.

Obrigado aos pacientes pela oportunidade de sermos seus médicos.

FELIZ DIA DOS MÉDICOS!

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Osteoporose, você e o que fazer.

Acabei de sair de uma aula com o médico, professor e amigo Dr Artur Lemos. Suas aulas são sempre ótimas e nos trazem muitas informações úteis. Hoje ele estava falando sobre osteoporose e, inspirado nisso, resolvi falar sobre isso aqui pra vocês.

É uma condição caracterizada pela perda de massa óssea, levando a ossos mais fracos e mais sujeitos a fraturas. Dificulta muito a recuperação das fraturas também. É um problema sério e muito prevalente na nossa sociedade, afetando principalmente mulheres a partir da menopausa mas que também acomete homens.

Beleza. O problema é esse e ele ataca ossos. As pessoas costumam ver os ossos como estruturas meio estáticas e muito relacionadas ao cálcio. Preciso te dizer que o osso é tudo menos estático e que 90% de sua composição é, na verdade, proteica. O cálcio cumpre papel importante, mas não é seu principal constituinte. É sobre uma base proteica, com colágeno, que se fixa o cálcio e outros minerais, formando o osso em si. O osso também é repositório destes muitos minerais, que podem ser daí mobilizados se houver necessidade.

Os osteoblastos são células que geram osso novo e os osteoclastos degradam osso velho. O equilíbrio entre estas duas ações gera um osso saudável. Estas ações dependem diretamente da nutrição, do equilíbrio hormonal, dos exercícios físicos e, até mesmo, da exposição à luz solar. O sol é muito importante para o processo de geração da vitamina D3, fundamental para a absorção do cálcio.

Aí você pensa: "por isso que eu tomo leite. Pra ter cálcio!"

Sinto te informar que não é bem assim. O cálcio está presente no leite, mas a capacidade do nosso organismo de usar este leite é bem baixa. O cálcio mais interessante para você está nas folhas verde escuras e, sem dúvida, em suplementos de cálcio usados de forma adequada.

Aí você pensa de novo: " tudo bem. Ainda bem que me passaram aquele suplemento de cálcio com vitamina D!"

Lá vem eu, chato, novamente. Não é tão simples assim. O tipo do sal de cálcio presente no suplemento é muito importante. É que você não toma cálcio, mas sim um sal de cálcio. Pode ser carbonato, fosfato, citrato, glicinato, bis-glicinato... Tem vários. Os melhores são o glicinato (também conhecido como cálcio quelado) e o citrato, e podem ser prescritos de acordo com as necessidades individuais do paciente. Não raro a dose de vitamina D presente nos suplementos prontos é muito pequena. Hoje em dia vivemos uma deficiência global de vitamina D, já confirmada por muitos trabalhos científicos, fazendo com que precisemos de suplementação mais abundante e mais exposição solar controlada.

Então você pensa mais uma vez: "tá bom, Adolfo! Então eu tomo um suplemento de cálcio com o sal certo e a dose certa de vitamina D! Tomo sol também! Tá bom pra você, seu chato?!"

...
...
...

não...

"O quê?!"

não...

"Não tô te ouvindo."

Não! Tá bom não! Desculpe, mas não posso mentir. Pra ficar legal, precisamos avaliar você com muito cuidado e determinar todas as outras vias de suplementação e mudança de hábitos de vida. Vamos precisar, também, de magnésio, silício, riboflavina, vitamina C, vitamina K2, manganês, zinco, alguns aminoácidos e, não raro, de uma reposição hormonal. Tudo isso feito de forma muito específica e personalizada. Considerando a individualidade de cada paciente. Não é simples, mas dá excelentes resultados.

Além de tudo isso, precisamos rever a exposição solar e dar atenção aos exercícios físicos resistidos, como a musculação.

"Oxe, Adolfo! Então você quer que minha vovozinha véia vá pegar peso na academia?!"

Hehehehe... Muito legal.
É isso mesmo, mas eu quero que ela vá realizar atividade física resistida com a orientação dos profissionais adequados, notadamente o fisioterapêuta, o ortopedista e o educador físico. Isso é MUITO importante. Não queremos que ela fique torta. Inclusive, quero que você também já comece a ir, pra prevenir problemas futuros.

Dito tudo isso, eu recomendo a vocês como já fiz muitas vezes antes: busque uma equipe multidisciplinar. Os profissionais de saúde das várias áreas vão te ajudar, cada um a sua maneira, a ter uma melhor saúde óssea também. Isso te trará mais qualidade de vida e felicidade.

Saúde e paz.

Seja feliz.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Sem novas alternativas concretas para emagrecimento. Por que e até quando?

Parei pra ler uma reportagem no site da Veja falando sobre as consequências da proibição, ano passado, pela ANVISA, da venda de anorexígenos (remédios inibidores de apetite) no Brasil. Se quiser, dê uma olhada em http://veja.abril.com.br/noticia/saude/um-ano-apos-proibicao-dos-emagrecedores-pacientes-continuam-sem-alternativas-para-perder-peso. Eu já me manifestei sobre o tema na época do ocorrido, como podemos ver em Proibir X Educar, e agora vou comentar sobre o que li.

Primeiro, fiquei feliz com o fato da reportagem mostrar ambos os lados do problema. Legal. Mesmo assim, ficou muito claro uma coisa: os pacientes que PRECISAM DA TERAPIA MEDICAMENTOSA ficaram sem opções à altura dos medicamentos proibidos. A sibutramina, única droga disponível no momento para esta finalidade formalmente, não tem a eficiência das drogas que foram proibidas.

O uso de medicamentos com outras indicações, de forma off label, com a finalidade de emagrecer, tem crescido muito e isso só mostra o esforço dos médicos (pelo menos dos que trabalham com seriedade) em encontrar alternativas para cuidar de seus pacientes. É isso mesmo, pessoal. Existem pacientes que realmente precisam utilizar medicamentos para alcançar seus objetivos de emagrecimento e se afastar das possíveis consequências negativas da obesidade. Nem todo mundo consegue resolver apenas na base da "força de vontade" e precisamos compreender estas pessoas ao invés de julgá-las. A obesidade é uma doença de difícil tratamento e controle e com profundas implicações psicológicas/neuroquímicas.

Volto a afirmar que nunca fui um grande prescritor destas medicações, mas não posso ficar satisfeito quando vejo que opções terapêuticas válidas foram tiradas das mãos de nós médicos, que ficamos mais limitados ainda em possibilidades de tratamento para nossos pacientes. Acredito muito em mudança de hábitos de vida, exercícios físicos, dietoterapia e suplementação alimentar, elementos nos quais todo meu trabalho se baseia desde sempre, mas sinto falta das medicações para tratar uma pequena parcela de pacientes, que continua órfã.

O maior problema de todos, no meu ponto de vista, é que muitos pacientes estão tendendo a aderir à um suposto último recurso: a cirurgia bariátrica, em suas variadas formas. Este procedimento, fortemente banalizado nos últimos anos, deveria ser alternativa apenas para os casos literalmente perdidos. Deveria ser opção apenas para aqueles pacientes que estão em um estado de obesidade tão absurdo que não tem como emagrecer de outra maneira... que não conseguem mais nem andar direito... que não têm mais nenhuma alternativa. Este tipo de cirurgia, definitivamente, não é para PESSOAS QUE QUEREM GANHAR MAIS 20Kg PARA PODER CONSEGUIR A LIBERAÇÃO DO CONVÊNIO. Provavelmente, não é a alternativa para você que está lendo este artigo.

Não quero dizer, com isso, que nunca haja indicação para a cirurgia. Com certeza, há, mas não tanto quanto tem se realizado a mesma hoje em dia. Se ainda tivéssemos a disponibilidade de utilizar as medicações que foram proibidas, poderíamos evitar inúmeras cirurgias como esta.

Me preocupa, também, perceber uma coisa: o campo está aberto para a nova droga milagrosa que surgir, provavelmente custando uns R$300,00 a unidade ou mais. Sendo liberada, talvez, sem um perfil de segurança ideal, como vimos acontecer com algumas medicações nos últimos 15 anos, caso de alguns anti-inflamatórios e antidepressivos. Isso coloca até a gente pra pensar: "será que não é tudo de propósito?" Quem tem interesse nisso?

Não sei responder a pergunta, mas sei que estou muito interessado em ajudar meus pacientes a viver com mais saúde e adoecer cada vez menos. Estou interessado em encontrar alternativas que valham a pena, e tenho utilizado algumas off label, também por falta de opções. Estou muito interessado em ver um órgão de importância vital para a saúde no país se manifestar de forma mais educativa e fiscalizadora ao invés de uma postura paternalista e castradora. Estou tremendamente interessado em ajudar os pacientes que tenham realizado cirurgias como as citadas acima e que, agora, sofrem com depressão, desnutrição, sarcopenia, "entalos" e outros problemas. Eles podem ter uma vida de melhora qualidade. Estou interessado, e compartilho isso com muitos colegas da área de saúde, em promover saúde sem medo e com educação e esclarecimento DE FATO dos pacientes e profissionais envolvidos.

Sei que tô chato hoje, mas em tudo isso tem, também, um grande desabafo.

Use e abuse de seu médico, seu nutricionista, educador físico e psicólogo. Se informe e sempre veja os prós e contras de todas as alternativas. Se paute por esclarecimento e bons argumentos, pois eles valem muito mais do que cargos e títulos. Procure profissionais que te respeitem enquanto pessoa pensante e dotada de inteligência. Se não quiser te explicar as coisas direito, caia fora!

Desenvolvamo-nos.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O que é normal?


Sabe quando o profissional de saúde que está cuidando de você pede um exame? Pode ser de sangue, urina, fezes, imagem ou qualquer outro tipo, mas você sempre quer saber se está "normal" ou não. É um direito seu.

Saiba de uma coisa muito importante: a posse do exame é SUA. De quem era o sangue? E o cocô? De quem foi o pulmão radiografado ou o pâncreas "ultrassonografado"? Não foi tudo seu? Então, inclusive pelo código de ética médica, o exame é seu. Você tem todo o direito de abrir, ler, riscar, rasgar, tocar fogo ou coisa pior... e pode, também, entregar para o profissional ler o resultado (essa é, quase sempre, a melhor opção).

Só tem um problema é um só: afinal de contas, em se tratando de resultados de exames, o que é normal?

Somos levados a crer que são os valores dentro dos intervalos de referência, ou os "valores normais" dos exames. Isso leva, tanto leigos quanto profissionais, a cometer muitos enganos. Para que você entenda isso, vamos dar uma olhada no conceito de NORMAL pelo dicionário Caldas Aulete:


(nor.mal)
a2g.
1. Que é natural ou habitual (reação normal).
2. Que é segundo a norma ou padrão
3. Que é usual, comum, habitual, corriqueiro: "Mas não faz mal, é tão normal ter desamor" (Antônio Carlos & Jocafi, Você abusou))
4. Mental e fisicamente saudável (diz-se de pessoa).
5. Pop. Que não foge, em termos de comportamento, à regra da maioria das pessoas
6. Fig. Que é social ou moralmente aceitável: "Não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal" (MIlton Nascimento & Fernando Brant, Bola de meia, bola de gude))
7. Diz-se de pele, cabelo etc. que não é seco nem oleoso
8. Diz-se de curso do ensino de nível médio para formação de professores primários.
sm.
9. Esse curso.
10. Pessoa normal (4): "Eu juro que é melhor/ Não ser um normal" (Rita Lee & Arnaldo Baptista, Balada do louco))

sf.
11. Geom. Reta perpendicular à curva ou superfície.
[Pl.: -mais.]
[F.: Do lat. normalis, e.]

Ufa... Pronto! 11 referências. É um termo sujeito a diversos pontos de vista. OK. Vemos normal como natural, habitual, padrão, norma, usual, corriqueiro... até mesmo em uma referência a saudável, referindo-se a uma pessoa, mas observe:


EM ALGUM LUGAR VOCÊ LEU QUE NORMAL É "O CORRETO"?! Sei que não.


Você não leu, simplesmente, porque não é o caso. O normal, das faixas de referência dos exames, em geral se refere à frequência de um resultado em uma população e precisa, inclusive, muitas vezes ser "regionalizado" para servir como referência que valha. Isso significa que "o normal" pode variar de país para país, região para região, povo para povo. Isso significa, também, que o normal é, em boa parte dos exames, o que "normalmente ocorre", e não o que seja ideal ou perfeito para cada pessoa.

Este "normal" é relativo!

A avaliação de um exame complementar vai muito além da simples comparação dos resultados a tabelas e faixas numéricas. É necessário ponderar os resultados e, não raro, relacionar vários resultados entre si para chegar a uma conclusão realmente útil. Isso tudo tem um motivo muito simples: nosso organismo é composto por muitos sistemas menores que se integram em um sistema maior. Nosso corpo é um complexo de inter-relações e precisa ser avaliado assim.

Também precisamos considerar que, já que as faixas de "normalidade" geralmente têm mais relação com a frequência de uma faixa de resultados do que com estes serem ideais ou não, muitas vezes o ideal para um paciente será um valor específico, ou faixa de valores, dentro desta faixa. Por exemplo, apesar dos valores para insulina sérica em jejum terem como "faixa normal" valores entre 2,5 e 25, eu sempre vou preferir que um paciente meu apresente um valor inferior a 10 ou, até mesmo, a 8, pois são valores que demonstram um sistema de resposta insulínica mais saudável, na presença de uma glicemia dentro do desejável.

Por conta de tudo isso que eu citei acima, lembre que o exame é seu, mas a leitura dos resultados é muito mais complexa do que parece. Se você é impressionável, talvez valha a pena não ler nada mesmo e esperar para o profissional de saúde avaliar tudo e esclarecer.

Não vá se jogar do banquinho embaixo, certo? Peça esclarecimento. Pode ser que seja tudo normal.

Normalmente.