terça-feira, 15 de março de 2016

Quem não se comunica, se ESTRUMBICA OU Não tire conclusões precipitadas

- Doutor! Pelo amor de Deus, me ajude! Eu senti uma dor de cabeça, logo no segundo dia do tratamento e suspendi TODOS os REMÉDIOS que você me passou. Parei também aquela dieta que me orientou porque fiquei achando que tava sobrecarregando meu fígado. E agora doutor? - isso se passa durante a revisão, uns 30 dias após a consulta. Gera uma pergunta automática:

- E por que não entrou logo em contato comigo?

As respostas, a essa pergunta, variam um bocado:

- Porque não queria incomodar. OU
- Porque eu estava viajando. OU
- Porque ninguém consegue falar com o senhor, Dr. (esquecendo de e-mail, whatsapp e afins). OU
- Porque o vizinho da cunhada de minha tia de segundo grau, no Acre, que se formou em Medicina há 2 meses, disse que era isso mesmo e que eu devia parar.

...

Vamos lá, pessoal. Vamos dar uma analisada em tudo isso.

É muito comum e, evidentemente lógico, que se desconfie de uma nova conduta adotada, seja ela medicamentosa ou dietética, quando surge um novo sinal ou sintoma logo depois do início do uso. Ninguém vai discordar disso. É um raciocínio simples. Se antes de usar o elemento X eu não sentia nada logicamente, se passei a sentir um sintoma depois que comecei a usar o tal X, ele deve ter alguma coisa a ver com isso. Beleza.

O problema não é o raciocínio, mas a conclusão. É importante perceber que esta relação não é, COM CERTEZA, verdadeira. Ela PODE SER verdadeira. Sabe com quem você deve checar isso? Com quem PRESCREVEU. O correto, quando acontecer algo assim, é entrar em contato com quem fez a prescrição, explicar o que ocorreu e solicitar orientações. Muitas vezes trata-se de uma coincidência ou de um sintoma transitório previsto, sem nenhuma gravidade. Outras vezes, demanda alterações na conduta que o profissional já conhece e sabe que podem ocorrer. Por isso, não vale a pena tentar desvendar os possíveis problemas na prescrição de um profissional utilizando a avaliação de outro profissional. A prescrição é um ato particular e resultante de um raciocínio que aquele profissional desenvolveu na hora em que você informou tudo a ele. Outro colega, que venha a avaliar aquilo, não necessariamente desenvolverá a mesma linha de raciocínio e, portanto, pode chegar a conclusões diferentes tanto sobre o quadro quanto sobre o tratamento. Isso acontece.

O risco de fazer estes "intercâmbios" é o de ficar sem definições claras sobre seu quadro e o tratamento adequado. Os pacientes que costumam fazer isso, não raro, se tornam extremamente desconfiados de todos os profissionais e começam a, perigosamente, tentar "se tratar sozinhos". Acredite. Por pior que esteja a situação da nossa saúde e dos nossos profissionais (concordo que as coisas estão bem complicadas), ainda vale mais a pena elencar aqueles profissionais nos quais você vai confiar e trabalhar junto com eles.

Eu digo trabalhar junto porque a assistência à saúde deve ser um trabalho de parceria entre o profissional e o paciente. Ambos devem colaborar para que tudo ande bem. Um deve informar claramente e seguir as orientações enquanto o outro deve ouvir atentamente e ter a carga de informações adequada para cuidar do quadro (ou estudar mais ainda para alcançá-la). vale o paciente procurar informações na Internet ou em outras fontes? Claro que vale! Isso demonstra cuidado consigo e vontade de melhorar. O que não vale é tirar conclusões em cima destas informações.

O que quero dizer é o seguinte. Quando você encontrar dados novos, discrepâncias ou qualquer outra coisa sobre seu quadro ou seu tratamento, não conclua NADA ainda. Pegue estas informações e leve para o conhecimento do profissional que está cuidando de você. Ele vai avaliar tudo junto contigo (se não fizer isso ou for um bossal que não aceita nenhum tipo de questionamento, pense em trocar de profissional) e te explicar o que cabe ou não ao seu quadro. NUNCA se desespere com as informações supostamente negativas que possa encontrar. Lembre que notícia ruim se difunde mais facilmente do que notícia boa e, portanto, é mais fácil encontrar coisas ruins do que boas em mecanismos de busca.

Agora, mais uns detalhes:

1. Você não INCOMODA por entrar em contato com o profissional que cuida de você para informar coisas importantes. Isso faz parte do trabalho;
2. Um profissional de saúde liberal, hoje em dia, para se manter, precisa trabalhar bastante. É comum que ele tenha dificuldade para ter longas conversas telefônicas com você, mas também com os amigos, o cônjuge, os filhos, a mãe... Não se sinta o foco deste problema. Procure contactar via e-mail ou whatsapp que, com certeza, será mais fácil. Se não houver resposta, insista;
3. Não fique pegando opiniões aqui e ali sobre seu tratamento e seu estado de saúde. O você confia nos profissionais que cuidam de você ou não. Se não confia, troque. Simples assim;
4. Pelo meno no âmbito da Ortomolecular e, principalmente, no início dos tratamentos, utilizamos quase nada de REMÉDIOS propriamente ditos. O mais comum é utilizarmos SUPLEMENTOS NUTRICIONAIS e readequação de HÁBITOS DE VIDA. Não tenha medo do que vai ser prescrito e tire todas as dúvidas que tiver COM QUEM PRESCREVE;
5. Só pra finalizar, você sabe o que é que realmente sobrecarrega seu fígado? ÁLCOOL, PARACETAMOL e EXCESSO DE AÇÚCARES. É bem verdade que o uso de algumas outras drogas, de forma regular, em doses específicas, também o faz, mas isso não acontece com suplementos nutricionais prescritos corretamente nem COM DIETA.

E agora, pra finalizar, compreenda que boa parte de tudo isso que falei aqui acima tem relação com uma única coisa: o auto-boicote e a fuga. Processos mentais circulares e contraproducentes. Quem tem dificuldade de seguir um tratamento, de qualquer natureza, muitas vezes recorre à desqualificação deste mesmo tratamento, dentro da própria mente e frente às pessoas próximas, apenas para fugir dele. É uma atitude que demonstra grande fragilidade, mas que todos nós já fizemos, pelo menos parecido, em algum momento das nossas vidas. Somos humanos e imperfeitos. De qualquer forma, lembre disso quando perceber que está "colocando dificuldades" no seu tratamento e pense como será mais interessante realizar as coisas antes de tentar fazer juizo sobre algo que você, provavelmente, não entende completamente.

Converse. Dialogue. Questione.

Quem não se comunica, se estrumbica.

sexta-feira, 4 de março de 2016

A Oportunidade do Trabalho em Equipe

Ontem eu dei uma entrevista para uma grande revista aqui da Bahia. Durante a conversa, surgiu a questão da multiplicidade de profissionais na área de saúde e dos conflitos entre eles. Já falei, aqui no blog, sobre abordagem multidisciplinar (veja AQUI), mas vejo que este assunto não se esgotou ainda. Na verdade, estamos bem longe disso.

A existência das diversas derivações de profissionais assistentes, na área de saúde, que surgiram, na verdade, conceitualmente, da Enfermagem (e não da Medicina, como muitos pensam), gera uma confusão na cabeça dos pacientes e dos próprios profissionais. Afinal, quando você tem uma dor nas costas, deve procurar um médico ortopedista, um clínico ou um fisioterapeuta? Não é raro encontrar pessoas com este tipo de questionamento. Dentro da própria área médica, fica aquela dúvida entre os pacientes: minha dor de cabeça deve me levar ao clínico ou ao neurologista?

Toda esta confusão é comum visto que muito da normatização das profissões, na área de saúde, veio sendo concretizada aos poucos, o que tornou os limites profissionais muito tênues, por algum tempo. O que quero conversar, hoje, parte daí. A normatização de cada função deve trazer mais clareza para o trabalho mas não deve, em nenhuma hipótese, afastar os profissionais entre si. Infelizmente, isso acontece DEMAIS.

Vemos, com muita frequência, conflitos entre profissionais pelo "território" terapêutico. São brigas intermináveis para ver quem pode mais, quem sabe mais e quem deveria, de fato, cuidar do paciente. Para esta última questão, minha resposta é simples: TODOS.

Como já comentei em outro post do blog (veja AQUI), precisamos acabar com a babaquice na área de saúde. A responsabilidade pelo benefício do paciente é de TODOS os profissionais que possam, de alguma maneira, contribuir para isso. Por que esta obrigação de uma "escalação" específica quando podemos, juntos, gerar MUITO mais benefícios para a saúde das pessoas? É apropriado, sem dúvida, que os conselhos profissionais se fortaleçam e que as regras que definem cada profissão se tornem cada vez mais claras, MAS NÃO PODEM SE TORNAR MUROS!

Defendo sempre a abordagem multiprofissional e um trabalho integrado entre estes profissionais que estejam cuidando de uma pessoa. Não um "balaio de profissionais", mas sim um conjunto integrado onde cada um opina sobre sua área, mas também ouve críticas e sugestões dos outros profissionais pois, afinal, TODOS PENSAM E ESTUDAM. Trabalhar em equipe, ouvindo a opinião dos outros e podendo debater e encontrar uma via ainda melhor para nossos pacientes é uma OPORTUNIDADE DE TRABALHO EM EQUIPE.

Portanto, se você é profissional de saúde de qualquer natureza, procure a união e harmonia com os
outros colegas pois o único que deve ser VERDADEIRAMENTE beneficiado, pelo nosso trabalho, é o PACIENTE.

Se você é paciente e for a um profissional que fica criticando os de outras áreas... pense.